Comida japonesa: quando quase tudo é cru como garantir a segurança dos alimentos?
Há mais de 100 anos atrás se iniciava a imigração japonesa no Brasil e com a vinda desses novos habitantes, nós brasileiros, fomos contemplados com uma explosão cultural deliciosa, que é a culinária ou comida japonesa.
A partir do ano 2000, em nossa experiência pessoal, observamos a maior popularização da comida japonesa em restaurantes nas cidades.
O “comer fora”, que antes se limitava a pizza e lanches, ganhou uma nova opção, os restaurantes japoneses e seus combinados e barcas.
Além do atrativo da diversidade de sabores, a comida japonesa traz a saudabilidade que é tendência no cenário de restaurantes e de alimentos, o tal do comer comida japonesa é saudável. Afinal, peixe cru faz bem pra saúde.
E vamos combinar né, pessoal. Comida japonesa é muito gostoso!
Mas, como nem tudo na vida são flores. A oferta de alimentos crus pode causar diversos malefícios se, o processo de manipulação desses alimentos é realizado de forma incorreta.
Casos de intoxicação alimentar por pescados em más condições ou até mesmo infecções por parasitas como o do gênero Anisakis, são exemplos disso.
Sendo assim, consultores de alimentos devem ter atenção redobrada com esses restaurantes e procurar respaldo nas legislações, de modo a garantir segurança e, claro, sabor para o cliente.
Já abordamos a questão da importância da temperatura de recebimento de matérias primas e da temperatura de exposição de alimentos quando conversamos sobre os cárneos.
Mas, e quando os alimentos são em sua grande maioria servidos crus? Como é o caso de sashimis, sushis variados, carpaccio de peixe, entre outros? Qual legislação seguir?
Diante da particularidade da comida japonesa, em 2016 a Portaria SMS Nº 1109 DE 23/08/2016 do Rio Grande do Sul, mais especificamente no município de Porto Alegre foi criada para orientar quanto as normas de manipulação e temperatura.
A Portaria deixa claro, que as demais legislações são vigentes para esses retaurantes e a mesma aborda as particularidades da culinária.
Pescados – alto mar (mais risco de parasitas)
Para consumo cru ou cozido parcialmente, deverá ser submetido a processo de congelamento conforme uma das seguintes técnicas:
- -20ºC, por no mínimo 24 horas, ou;
- -35ºC, por no mínimo 15 horas.
Entretanto, como garantir tal procedimento do fornecedor?
O estabelecimento deve exigir através de documentos tal procedimento no momento do recebimento da mercadoria e a matéria prima deve chegar congelada (temperatura igual ou inferior a -18ºC ou conforme especificações de sua rotulagem).
Pescados de cativeiro
Devido a menor chance de presença de parasitas, o pescado oriundo de cativeiro pode ser recebido de maneira refrigerada.
- temperatura igual, ou;
- inferior a 3ºC
Lembre-se é de extrema importância a comprovação através de documentos para que exista a certeza que o pescado provem de cativeiro.
Como o pescado é recebido refrigerado ele não poderá ser congelado.
Arroz (gohan ou shari)
É realmente pra quebrar a cabeça do consultor! Como que o arroz pode ficar em temperatura ambiente sem nenhum controle de temperatura? A resposta está na acidez do tempero do arroz.
A receita padrão do tempero do gohan (arroz cozido porém não temperado) deverá fornecer acidez necessária para que a receita completa atinja pH menor ou igual a 4,5.
Segundo o Art. 7º da Portaria, o pH do arroz temperado deverá ser monitorado a cada preparação, com registros de cada monitoramento, devidamente datados, rubricados, verificados, prevendo ações corretivas quando da ocorrência de desvios, não podendo ultrapassar o limite crítico de 4,5.
Ou seja, fichas técnicas serão essenciais para um restaurante de comida japonesa!
Ademais, o tempo de uso do arroz temperado será de no máximo 24hrs, devendo o excedente ser descartado e jamais reaproveitado com outro arroz recém preparado.
Sushis e sashimis
Certamente, você brilha o olho ao observar aquela pista cheia de sushis deliciosos, não é verdade? Nós também!
Mas, qual a frequência que você observa funcionários realizando a checagem da temperatura com termômetros manuais ou nos termômetros da bancada? Saiba que isso é de extrema importância para garantir qualidade e segurança.
Segundo a Portaria, todos os tipos de sushis e sashimis produzidos e que se apresentem prontos para o consumo, armazenado em refrigeração (aguardando para serem expostos ao consumo) deverão ser mantidos abaixo de 5ºC.
E sabe, aqueles balcões e vitrines que armazenam os filés de peixe crus. Aquele onde o sushiman está sempre próximo? Novamente, a temperatura desses balcões é essencial, sendo necessaria também temperaturas abaixo de 5ºC.
Outra informação importante: as sobras de sushis e sashimis não devem ser reaproveitadas, de forma alguma.
Boas Práticas de Funcionários
A Portaria que nos referimos no texto de hoje não aborda a questão dos funcionários.
Entretanto, reforçamos que ponto crítico de controle está presente na manipulação de alimentos pelos funcionários e quase todas as legislações vigentes abordam tal questão.
Ou seja, o sushiman, responsável pelo corte das peças de pescados crus e pelo preparo de variados sushis está bem treinado?
Ele faz a correta higienização das mãos? Está utilizando panos não descartáveis? São algumas perguntas pertinentes.
Processos: favorecem a contaminação cruzada?
Certamente, você deve saber que existe uma variedade de sushis e nós abrasileramos as culinárias pelo mundo.
Vamos imaginar que ao mesmo tempo que o restaurante produz um sushi com manga, pepino e kani, ele também prepara com tomate seco, rúcula e cream cheese.
Imagina se tudo isso for preparado no mesmo local onde o salmão cru é porcionado?
Cabe ao consultor conversar sobre esses processos na cozinha, organizando as preparações, de modo a reduzir ou eliminar as contaminações cruzadas, Para isso, é fundamental a conscientizar o funcionário sobre os perigos da contaminação.
Para isso capriche no treinamento de boas práticas com dinâmicas que exemplifiquem os perigos da contaminação cruzada e o alcance da mesma nos processos.
Uma rúcula mal higienizada pode comprometer mais que somente um tipo de sushi.
Portanto, o consultor de alimentos dentro de um restaurante de comida japonesa tem diversos desafios pela frente!
A Sou reuniu hoje alguns pontos de destaque para auxiliar na identificação desses pontos críticos no controle da segurança desses alimentos.
Você já trabalhou com algum restaurante e tem uma história ou contribuição para nosso texto? Deixe nos comentários 🙂
Vamos compartilhar conhecimento!